18 de jun. de 2009

questionamentos

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Recebi duas mensagens em defesa do Iepha. Acho muito bom que ele seja defendido, pois é uma instituição da maior importância, o que não significa que esteja isento de críticas, que não deva ser cobrado. Por outro lado, é louvável que os questionamentos tenham sido explicitados. A seguir, tento responder e avançar as questões.

Teresa Silva disse:
Olha Sérgio... acho que você está meio mal informado. Já fiz vários cursos e oficinas de educação patrimonial ministrados pelo Iepha, e sempre acompanho notícias de coisas assim. No site deles mesmo tem informações nesse sentido.

Teresa: com relação à formação, eu disse que cada tombamento deveria ser uma aula para a população, de tão importante que é. Não me referi às atividades pedagógicas do Iepha. Se você ler com atenção o meu texto, verá que não considero incompetentes os seus profissionais. O meu questionamento é sobre a atuação do Instituto. Quanto a estar “meio mal informado”, concordo: nunca considero que estou suficientemente informado.

"Outra coisa é que 132 tombamentos não significa 132 imóveis, já que centros históricos podem agrupar centenas de construções. Mil bens tombados nem o Iphan (país todo) tem. Não é por quantidade, é por representatividade que a coisa funciona. Não é pra sair tombando qualquer coisa. Tem que ter pesquisa, embasamento, reflexão. De que adianta tombar e não conseguir dar assistência aos bens protegidos? Fora que o iepha não só tomba coisas, mas também apoia (dá suporte em projetos, restauros e inventários, etc) os tombamentos dos municípios, e aí sim beira os cinco mil bens tombados em Minas."

Eu ainda não tinha me referido ao IPHAN, mas se ele ainda não tombou mil bens no Brasil, deveria declarar falência, ao invés de construir uma sede nova em Brasília. Por outro lado, tanto a quantidade quanto a qualidade dos bens são importantes, talvez porque, pelos meus critérios, muito mais do que está tombado, deveria ser. Não é pra sair tombando qualquer coisa? Seria melhor do que tombar pouca coisa. Quanto a conseguir dar assistência, é mais educativo a gente assistir à ruína de um bem tombado do que vê-lo arruinado antes de ser reconhecido. Sei que o Iepha faz outras coisas, mas estou questionando o que, na minha opinião, ele não faz adequadamente: tombar e conscientizar. Veja o caso da Minas Diesel.
Por fim, deixar os tombamentos nas mãos dos municípios é temerário, pois os interesses são frequentemente conflitantes: tem a casa do amigo, a casa do inimigo, etc. O ideal seria que o Iepha tombasse o bem, dando uma indicação clara da sua importância. Melhor ainda se fosse para as cidades e fizesse isso em praça pública.

"Só acho que antes de requerer óleo de peroba você deveria procurar se embasar, ler a respeito... e se ainda assim não estiver satisfeito, liga pra eles, manda aqueles fale conosco (eles são obrigados por lei a responder em 48h) e aí sim vc pode chamar uma instituição de cara de pau. Na piração da crítica irresponsável o óleo de peroba fica pra quem não sabe do que está falando!"

Antes de escrever, eu liguei para o Iepha: independente da obrigação legal, fui muito bem atendido, com presteza e cordialidade. Recebi a lista dos bens tombados quase imediatamente. Se o Instituto considera suficientes os 132 tombamentos, pode defendê-los. Eu não considero assim e critiquei, mas não acho que tenha sido irresponsável. Pelo contrário.
Quanto ao óleo de peroba, concordo com você: para fazer qualquer crítica no Brasil, a gente tem que ser um tanto cara de pau.

Camila Chistina disse:
"O dono da verdade, você poderia se informar um pouco antes de falar mal de uma instituição séria como o Iepha.
Tombamento por si só não garante preservação. O que mantém a história viva é o sentimento de pertencimento que deve partir do próprio povo. Pois a ele pertence os prédios e a história que eles guardam.
Da próxima vez leia mais sobre o assunto antes de falar bobagem."


Camila: óbviamente sou o dono das minhas verdades.
Concordo com você, em que tombamento não garante preservação. Mas vamos esclarecer uma coisa: tombamento e preservação são ações completamente diferentes. O tombamento é o reconhecimento da importância de um bem. Já a preservação mostra a nossa capacidade de mobilizar recursos técnicos e financeiros. Portanto, não precisamos deixar de tombar, apenas pela impossibilidade de restaurar ou de preservar.

















A ruina de um edifício, pode começar no simples chumbamento da rede elétrica (amplie a última foto), numa parede antiga: o cuidado com o patrimônio deve se manifestar nas mínimas ações.

As fotos são de Catas Altas, em 2007.

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