9 de jun. de 2009

Privacidade: as caixas de vidro

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Certas imagens, até mais do que os próprios projetos, se instalam para sempre na nossa mente. É o caso, para mim, dessa foto da casa Farnsworth, do Mies van der Rohe. A casa parece estar num interior remoto, não importa se Everglades ou Pantanal, solitária e transparente, totalmente integrada ao ambiente natural, mas também autônoma, elevada do chão, tecnológica. O preto e branco da foto também é fundamental.
Farnsworth, com sua cozinha aparente, é o sonho do rompimento dos limites entre público e privado, servindo de modelo para um grande número de residências ao longo do século XX. No entanto, aos poucos o excesso de transparência foi confrontado com realidades urbanas cada vez mais invasivas, e as cortinas eternamente fechadas, acabaram sendo substituídas, nos novos projetos, por alvenaria e por outras estratégias.

Atualmente, com o advento dos condomínios fechados, as casas podem ser novamente, menos defensivas. Um dos fatores que assim o permite é a própria vizinhança, de hábitos mais ou menos uniformes e supostamente bem educada. Não nos esqueçamos, entretanto, que o traficante Juan Carlos Abadia vivia num condomínio elegante em São Paulo e que Marcos Valério vive em outro, em Nova Lima.
Mas não há como negar que a possibilidade de residências mais abertas se amplia, até mesmo impulsionada por um certo exibicionismo que chega ao exagero nos reality shows, mas cujo sucesso não deixa de indicar características sociais. O Twitter vem nessa linha, de tornar públicos acontecimentos privados. De qualquer modo, seja qual for o caso, a maioria adere por impulso.

O certo é que as casas de vidro voltaram a ocupar lugar nas revistas e no imaginário da arquitetura contemporânea, tendo sido apresentadas como uma nova vanguarda ou, como preferem alguns, uma espécie de “resistência”. Eu já disse num outro texto (O Modernismo Conservador e os Cadillacs de Cuba, procurem nos posts mais antigos), que o uso do termo resistência, sem esclarecer a que se está resistindo, pode se constituir num modo de legitimar um grupo como vanguarda, colocando-o como guardião das próprias crenças, como se elas fossem compartilhadas por todos: a arquitetura brasileira é muito mais do que o modernismo brasileiro.

Um dos equívocos do modernismo, e ele foi contestado por seus equívocos e não pela ausência de qualidades, foi supor que a mera construção de um objeto moderno, transformaria os contextos. Assim, com muita freqüência, os condicionantes foram simplificados, em favor da aplicação de um modelo. Tal é o caso da caixa de vidro.
Nos exemplos abaixo, a questão da privacidade fica em suspenso: ver é bom, ser visto, nem sempre.






































1/2. mmbb: casa num condomínio fechado em barueri,sp
3. mmbb: casa em ribeirão preto, sp
4. humberto hermeto: casa em nova lima, mg
5/6/7.mmbb: casa em são paulo, sp

as fotos são da Arcoweb, com excessão da primeira, da Gustavo Gili.

2 comentários:

Estêvão disse...

Senti esses traços tão familiares..

sergio disse...

Então vai fundo!