10 de jun. de 2009

Privacidade: modelos ou exemplos?

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Ao contrário de dividir abruptamente os domínios público e privado, as cápsulas brancas contêm uma gradação de espaços progressivamente mais íntimos. Equilibrando superfícies sólidas e grandes aberturas, as caixas propiciam proteção quanto aos olhos curiosos e ao mesmo tempo promovem boas relações de vizinhança.” Naomi Pollock, sobre a Casa N, na Architectural Record de abril de 2009

A Casa N, de Sou Fugimoto, coloca em destaque a importância do estudo cuidadoso dos limites construídos, para a definição dos níveis de privacidade. O seu projeto não faz alarde da engenhosa tecnologia que viabiliza essas superfícies, nem é o heroísmo estrutural que se torna protagonista: a tecnologia está a serviço de uma idéia.
Não se trata também de produzir uma forma diferente, apenas para desafiar o tradicionalismo da vizinhança: a casa é para um casal de aposentados que mora no local há mais de 30 anos e tanto revigora a paisagem quanto assegura o equilíbrio do lugar.

A Arquitetura Moderna frequentemente tratou as relações interior/exterior de modo simplório, confundindo transparência com integração, encerrando as pessoas em caixas de vidro, de onde observavam a natureza lá fora. A abordagem de Fugimoto é ousada e marcadamente racional, sem que haja prejuízo da sensibilidade. Pelo contrário, a natureza, entendida como Céu e Terra, entra pela casa, absorvida pelas superfícies porosas que limitam os espaços, promovendo a efetiva interação com o homem.
A Casa N pode até se constituir em referencia para outros trabalhos, de outros arquitetos: é assim que a arquitetura caminha, com a história em eterna construção. Ao reconhecer os elementos do problema que condicionariam a solução, tanto os de natureza legal, quanto ética e sociológica, ela é um exemplo de estratégia, mas não se coloca como um modelo.
Num país sem muito apreço pela memória como o nosso, é louvável que grande parte da comunidade arquitetônica se orgulhe das suas tradições. Entretanto, o dinamismo da nossa profissão está no constante aprofundamento das concepções, em busca de soluções de significado mais amplo e não na repetição de modelos.




















Fotos de Iwan Baan




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