28 de jul. de 2009

e lá se vai o inverno

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O Louvre em janeiro. Tokyo/Rio via Paris: quando uma conexão cancelada vira presente.

27 de jul. de 2009

conchas 2

Quando uma forma resiste a fotos noturnas, sem perder a integridade, isso é um ótimo atestado de qualidade.

26 de jul. de 2009

conchas

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"...a concha vazia, como o ninho vazio, sugere devaneios de refúgio."
Gaston Bachelard, "A Poética do Espaço"





É muito comum chamar-se de caixotes, com um evidente tom pejorativo, os edifícios de formas simples e ortogonais. Se forem simétricos, serão também considerados arcaicos. Entretanto, todos sabemos como é difícil projetar uma caixa expressiva.
Obras recentes (ou já nem tanto) de um numeroso grupo de arquitetos paulistas, dentre os quais estão Álvaro Puntoni, Ângelo Bucci, MMBB, Andrade Morettin e muitos outros, tem feito este exercício, com alguns bons resultados e outros tantos malabarismos inócuos.
Um dos pontos que me chamam a atenção no conjunto de obras dessa auto-intitulada Resistência (?), é a simplificação nas relações edifício/contexto e interior/exterior, fazendo com que as suas caixas se enquadrem quase sempre naquilo que o meu caríssimo irmão de formação, João Diniz, chamou de “cubismo transparente” (já especulei sobre esse tema em posts anteriores sobre "privacidade").
Num extremo da arquitetura moderna brasileira temos essa vertente inspirada em Paulo Mendes da Rocha e no outro, as curvas aparentemente “livres” do Niemeyer. Nada mais enganoso do que essa idéia de “curvas livres”, e a insistência nessa afirmação poética talvez tenha nos afastado do estudo da geometria, mais presente nos edifícios do Oscar do que as curvas das montanhas do Rio ou da mulher brasileira.
Mas é como inspiração e alternativa a esse beco sem saída no qual se encontra a arquitetura brasileira, dividida entre fórmulas prontas e gênios improváveis, que vejo o projeto da casa-concha, do arquiteto japonês Kitaro Ide.

Os materiais são o concreto e o vidro, mas foram trabalhados de modo a participarem das relações entre o edifício e a natureza, e não como manifesto construtivo. O discurso desenvolvido por Ide, é no sentido de aproximar o natural e o artificial, sem conflitos, mas também sem concessões: eles coexistem e são integrados por meio da geometria.

A implantação demonstra uma abordagem sutil e progressiva da privacidade, e propicia a geração de um espaço interiorizado e ao mesmo tempo aberto, bem diferente daqueles que decorrem do “cubismo transparente”, que trata fechamentos e aberturas mais em função de suas coerências construtivas e compositivas, deixando muito a desejar em termos tanto de integração quanto de privacidade. A casa-concha, e agora vejo que o nome tem razões que vão além da forma, eleva-se do chão, protegida da umidade, mas sem o isolamento que o uso dos pilotis provoca, ao implicar numa relação apenas visual entre os espaços da casa e a natureza.

De dentro de uma concha esperamos que saiam animais fantásticos e assustadores, criados pela nossa imaginação, mas, como assinala Bachelard, Afrodite também nasceu nessas condições.


































































































































































21 de jul. de 2009

paulistanas 1

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Quando elogiamos uma cidade, é quase automática a relativização do elogio, pois em todas elas se manifestam as desigualdades sociais, desigualdades estas que vão desde as diferenças de renda, até as de educação e civilidade.

Os diferentes grupos que formam as cidades possuem linguagens construtivas peculiares também. Num extremo, propostas impulsionadas por modismos inevitáveis, por arquitetos da moda e também por arquitetos sem talento nem discrição. No outro, a exigüidade do tijolo nu, dos beirais de laje pré-moldada e das janelas sasazaki.

Do ponto de vista da arquitetura, costumamos lançar um olhar benevolente sobre as edificações de todos eles. No primeiro, a parcela mais numerosa e conservadora, que usa telhados e outros elementos românticos, é tratada com desprezo e ignorada. Já os poucos exemplos de propostas plástica, programática ou conceitualmente inovadoras, geralmente não são analisados criticamente, sendo apenas apresentados e incensados nas revistas.

No grupo da autoconstrução, tudo é justificado pela pobreza. Mesmo que ela seja um grande limitador, não vou eximir os pobres da sua parcela de responsabilidade, seja quando jogam lixo no lote ao lado, seja quando não se importam com a qualidade, no sentido amplo, das suas casas. Chamo a atenção para o fato, sabido, de que há 50 anos os mais pobres ainda construíam com dignidade. Portanto não é apenas uma questão de custos, mas também de valores. Se na maior parte das vezes em que há dinheiro disponível, ele se destina a outros gastos que não a casa, quando ela recebe investimentos, a sabedoria do construtor raramente se apresenta.

Não há como negar que a nossa cultura construtiva, que um dia foi patrimônio coletivo, está ameaçada.






















Embu/SP e SP/SP: houve um empo em que quase todos mestres de obra possuiam um razoável vocabulário arquitetônico.
BH/MG: isso está mudando...

16 de jul. de 2009

Croce, Aflalo & Gasperini

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Um dos excelentes projetos do escritório Croce, Aflalo & Gasperini, dos anos 70, esse edifício de escritórios em São Paulo apresenta um arranjo inusitado: os elevadores que levam os automóveis para as garagens, passam abertos, no hall social.




































15 de jul. de 2009

Ruy Ohtake

Instituto Tomie Ohtake, projeto do Ruy.





















13 de jul. de 2009

arte ou manifesto?


Eu estava ouvindo um trabalho dos anos 90, dos Brecker Brothers, num estilo que poderia ser classificado como “jazz contemporâneo”, se isto não significasse muito pouco ou quase nada em música. Mais apurado seria dizer “fusion”, que se refere à mistura jazz/rock. Naquele album, “Out of the loop”, a banda tem uma composição simétrica: dois metais, duas cordas e duas percussões, uma formacão equilibrada e geométrica.
Poucos sabem quem são Michael e Randy Brecker, pois os arquitetos, assim como os artistas plásticos, se ligam mais ao mainstream da música do que aos trabalhos técnica e compositivamente instigantes. É pura intuição minha, mas devem existir entre nós, mais fans de Marisa Monte do que de Brian Eno, ou Fennesz, o que não deprecia ninguém. De fato, apenas reafirma que aquilo que sentimos vale mais do que as teorias por trás das artes. Entretanto, neste caso, estamos também admitindo que para ser uma cantora, basta ter uma postura, saber escolher um repertório e ser razoavelmente afinada.

Mas lá estava eu, no meio de “Slang”, me deleitando com a extrema capacidade técnica que se mistura à sensibilidade daqueles seis músicos, quando me lembrei dos trabalhos de Adriana Varejão, vistos há uns 40 dias, no Inhotin. Especificamente, me lembrei da ala dos azulejos, dos grandes azulejos. Nela, Adriana muda a sua escala convencional, fazendo-os com 60 ou 80 de lado e, na queima, deixa que apareçam estrias e rachaduras no material. As peças apresentam também pinturas azuis, sugerindo, sem reproduzir, desenhos tradicionais. O traço é ruim, mas ela não se pretende desenhista, e sim militante de alguma causa. Naquele momento, a denúncia era quanto ao nosso descaso pelo patrimônio.
Onde estava a perícia alí? Sua habilidade com a ceramica faria um artesão japonês sorrir pacientemente, e os seus traços sobre o azulejo, não dizem muito. Entretanto, o que realmente importa, é o discurso, a atitude, as intenções que antecederam a realização e que acabam por tornar a própria realização, mera formalidade.
Se a proposta é ser cantora, vou de Alcione e não de Marisa Monte.

Adriana Varejão é a Marisa Monte das artes plásticas.

sampa

Pra ser sincero, vim pelas comemorações do Dia da Pizza, mas pensar não estraga o apetite, não é?

10 de jul. de 2009

soleira

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Já na porta de saída, recebo da Domus essas luminárias premonitoras: quem sabe anunciam algo entre o inusitado e a delicadeza?












1. Axo Light / Bell . Design: Axo Light
2. Oluce / Plateau . Design: Antonia Astori and Nicola De Ponti
http://www.domusweb.it/home.cfm

9 de jul. de 2009

pause

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Faremos uma pequena interrupção para manutenção dos equipamentos. Até breve.