22 de jun. de 2009

a cidade não é uma instalação

Ah, sim... houve uma Bienal de Arquitetura em Veneza, no final de 2008. O tema é daqueles que tenta ver algo mais, na já complexa atividade dos arquitetos: “Out There: Architecture Beyond Building” ( Lá fora: a arquitetura além da construção).
Aparentemente desafiador, o tema na verdade reforça o fato de que a arquitetura é uma intervenção no espaço, que tanto pode implicar na construção de algo quanto em rearranjo e mesmo em demolição. Mais forçado, entretanto, é dizer que qualquer discurso no espaço, é arquitetura.
O Brasil apresentou um “pavilhão”, com a curadoria do arquiteto Roberto Loeb, estruturado na idéia de relatos sobre a arquitetura, feitos por leigos, que eram projetados numa tela. O Chile também buscou uma abordagem assim, digamos, popular. Uma das diferenças entre ambos é que a mostra brasileira não explora o espaço, a não ser no óbvio de abrigar as atividades, enquanto a mostra chilena, que expõe souvenires arquitetônicos, apresenta um notável evento espacial, protagonizado pelo mobiliário de suporte aos objetos. Curiosamente, os chilenos, ao expor os souvenires, anunciam a primazia do popular, mas acabam dando uma aula de especialização: o que poderia ser apenas um a caixa neutra, transforma-se, nas mãos de um arquiteto em prazer aos olhos e homenagem à inteligência. Já o Brasil, além dos depoimentos, mostra um espaço residencial folclórico, que existe principalmente na cabeça dos intelectuais.
Os estrangeiros devem ter gostado, e discretamente procurado por uma mulata sambando.

Podemos estabelecer um paralelo entre essa proposta e as nossas cidades: deixamos “ao povo”, excessivo poder na caracterização do espaço público, por causa dos frágeis planos urbanísticos, carentes de uma concepção espacial mais definida e expressiva. O resultado final é como o interior de uma casa popular brasileira, não aquela folclórica da bienal, mas a real, com cerâmicas abomináveis, mas práticas, revestindo todos os ambientes, paredes com textura suvinil e a sala apinhada de eletros que às vezes ninguém sabe usar. E janelas sasazaki.

A arquitetura, “além da construção”, também é educação e deve se expressar também na concepção do espaço da cidade, muito além dos edifícios.






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