16 de set. de 2009

juro que vi...

Ao virar a esquina (olhando pra cima para não bater em algum avião...) dei de cara com essa acácia com mais de 28 metros de altura. É claro que eu tinha que parar, né?

14 de set. de 2009

um silêncio pouco inocente


...para a sociedade, não é suficiente que o arquiteto pareça uma autoridade.

Dois acontecimentos tiveram lugar, nesta semana, em SP e BH. Ambos têm relação com a vida urbana e são do nosso particular interesse como arquitetos, mas tratam de problemas diferentes, sem nenhuma conexão aparente.
Em BH, a Secretaria Municipal de Patrimônio, órgão público composto por arquitetos representando diversas instituições técnico-profissionais, está em litígio com alguns proprietários de imóveis e tenta provar a relevância do tombamento de residências sem nenhum valor histórico especial. A justificativa é a manutenção do volume construído, o que seria até defensável, não estivesse o entorno já verticalizado. Temos nesse caso, arquitetos/historiadores, se fazendo de urbanistas.
Em São Paulo, a discussão é sobre as obras de ampliação da marginal do Tietê, cuja eficácia e concepção estão sendo contestadas, numa oposição que tem à frente Jorge Wilheim, um dos urbanistas de maior prestígio no Brasil. O argumento contrário ao aumento das pistas daquela artéria fundamental ao tráfego na cidade paulista, é a redução da permeabilidade do solo. Agora, é o arquiteto/urbanista se fazendo de engenheiro hídrico.
Mesmo sendo questões diversas, há de comum entre as duas situações, a participação dos arquitetos em circunstâncias nas quais parecem expressar posições técnicas e não ideológicas, dando a entender que são compartilhadas por toda classe, que seria detentora de certo conhecimento. Entretanto, tais posições não são incontestáveis, o que torna o aparente consenso um engodo, com a nossa contribuição: em ambos os casos, nenhuma opinião diferente partiu de dentro da profissão, dando uma conotação científica às posições de grupos, expressas nos jornais.

O silêncio dos arquitetos é tradicional, principalmente quando se trata de debater publicamente com colegas e uma coisa me intriga: se somos assim tão unidos, se o nosso esprit de corps é tão forte, porque a nossa categoria profissional é tão pouco atuante enquanto tal e tem tão pouca capacidade de reivindicação coletiva?
O nosso presidente anunciou a construção de alguns milhões de habitações e os arquitetos não foram convidados para a empreitada. O Ministério do Exterior resolveu levar o país à Expo Shangai 2010 e os arquitetos envolvidos são os poucos que fazem parte de um certo clube de investimentos. O país vai sediar a copa de 2014, e os estádios serão reformados por um auto-denominado time (de várzea ?) com uma ou duas estrelas. O Governo de Minas vai transformar o conjunto cívico da Praça da Liberdade em algo mais espetaculoso, e fecha o debate nas mãos cheias de interesse de alguns. Tudo isto ao arrepio da lei e do bom senso, que indicam a realização de concursos públicos nestes casos.

Mas o que justifica o nosso silêncio diante de questões que admitiriam várias interpretações (o que propiciaria um debate sadio) se cada grupo está lançando mão de todas as armas possíveis, para realizar suas ambições mercadológicas?
Caso fossem considerados os interesses da população, deveríamos estar diariamente nos jornais, discutindo os inúmeros temas que dizem respeito à nossa atuação, à nossa responsabilidade profissional e à sociedade, ao invés de ficarmos fazendo tráfego de influência nos porões nem sempre salubres do mundo político e nos eventos sociais cujas motivações nem sempre estão à altura do uísque servido.

Tentem imaginar se durante a crise da gripe suína, os médicos tivessem se omitido do debate. É esta a postura dos arquitetos diante da crise das cidades.

um silêncio perverso

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"Inaugurada e inclusa, a Cidade da Música do Rio de Janeiro transformou-se, inesperadamente, numa campeã de matérias jornalísticas. Infelizmente, nada do que tem sido escrito recentemente diz respeito às qualidades (ou à eventual falta de qualidade) do projeto arquitetônico, de autoria do arquiteto francês Christian de Portzamparc (Casablanca, 1944). Por regra, a imprensa tem abordado o grande complexo cultural sob um único prisma: as supostas irregularidades cometidas ao longo de sua construção. Bem entendido, tais matérias não são assinadas por arquitetos. Como de costume, os arquitetos estão – salvo raríssimas exceções – calados.
Embora previsível, o mutismo do meio arquitetural brasileiro com respeito à Cidade da Música do Rio de Janeiro é particularmente incômodo, além de eloqüente. Pois, do ponto de vista da arquitetura brasileira, esse não é – ou pelo menos não deveria ser visto como – um projeto qualquer."


Começa assim o excelente artigo de Otavio Leonídio (http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq111/arq111_01.asp). Poderíamos argumentar que, por não estar terminado, o edifício em questão não deve ainda ser analisado. Bobagem: discute-se arquitetura ainda enquanto projeto. Mas será que no Brasil se discute arquitetura? Creio ser mais apropriado dizer que se fala de algumas arquiteturas, que se apresentam alguns edifícios. A discussão mesmo, é marginal, reservada para as madrugadas e para os recintos privados dos escritórios. Ou então, mais uma vez surpreendentemente, gostamos todos das mesmas coisas.

O texto abre várias vertentes férteis, e pretendo voltar a ele outras vezes. Entretanto, a sua presença nesta semana cujo tema casual é o silêncio, se dá, em primeiro lugar porque Leonídio começa fazendo menção a esse traço brasiliano. É nesse contexto que quero assinalar as relações entre a falta de diálogo e o estado atual da arquitetura brasileira.

Portzamparc é um arquiteto pós-moderno, mas Leonídio tenta livrá-lo desse título que, no Brasil, é uma ofensa e diz que ele “superou o pós-modernismo”, mas o que quer dizer isso? É alguma doença? O pós-modernismo é justamente a desobrigação de ser vanguarda pela inovação constante e aposta na validação das influencias históricas.
Conheci Christian de Portzamparc no seu projeto da Rue des Haultes Formes, de 1979, que é um residencial com inspirações históricas, no coroamento dos edifícios e na volumetria tradicionalmente composta, apresentando traços pintorescos. Anos depois ele projetou a Citè de la Musique, em Paris, um projeto cheio de equívocos formais, mas com referências múltiplas, tanto ao modernismo quanto aos estilos tradicionais. Portzamparc, assim como a maior parte dos arquitetos, foi evoluindo com o passar do tempo, mas a liberdade com que transita na história da arquitetura é provavelmente uma herança pós-moderna.































Aqui no país da jabuticaba e do alcoolismo cultural, a recuperação do modernismo se dá a partir da pulverização do pós-modernismo, como se ele tivesse sido um pecado a ser enterrado. Tudo o que aconteceu na arquitetura mundial pós anos 80, tem a ver, com certeza, com os questionamentos do período pós-moderno e, é público e notório, quem não aprende as lições da história está condenado a repeti-la. Talvez, essa insistência em negar o pós-modernismo e buscar o modernismo nas formas estruturais do concreto armado, esteja na raiz da confusão frouxa em que se meteu a arquitetura brasileira, uma arquitetura que não aprendeu a explorar as múltiplas dimensões dos espaços interiores e que continua a se contentar com malabarismos construtivos, perpetrados por um pequeno grupo paulista. Comparem o Museu dos Coches, projetado no ano passado por Paulo Mendes da Rocha, em Lisboa e a Casa da Música, do Portzamparc, no Rio: um século as separa, mas o passado modernista sobrou para os nossos patrícios. (ver o arquivo de abril desse blog: "Modernismo Recrudescido: as dificuldades em ser contemporâneo).

Para Otavio Leonídio, “a arquitetura moderna brasileira se mudou para São Paulo (...). Continua sempre sendo brasileira. Continua sempre sendo moderna. Continua sempre sendo a mesma.”

É pra comemorar ou pra chorar?


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7 de set. de 2009

função e paisagem

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Reparem no programa do edifício Fidalga 727: Bloco A: um apartamento tipo A, dois lofts tipo A, uma cobertura tipo A. Bloco B: uma casa, cinco apartamentos tipo B, uma cobertura tipo B (http://www.movimentoum.com.br/fidalga727/ ).

Até hoje, os programas da maior parte dos edifícios de apartamentos eram feitos mais ou menos da seguinte maneira: perfil genérico do potencial comprador + área máxima de projeção = número de unidades superpostas. As unidades diferenciadas se resumiam às coberturas, quase sempre resultado da sobra da área do coeficiente de aproveitamento.
Mais recentemente, alguns empreendedores passaram a transportar para os projetos, diferenças percebidas nas demandas dos usuários, resultando, num primeiro momento, na personalização dos acabamentos, evoluindo depois para a possibilidade de alterações das plantas. Agora, começam a aparecer empreendimentos cujas unidades já são diferenciadas a partir da concepção.

Entretanto, isso não é novidade na história da arquitetura. O caso mais famoso é a Casa Milá, conhecida como La Pedrera, projetada pelo Antoni Gaudi, em 1904, em Barcelona. A proposta é extraordinária: são apartamentos com dimensões diferentes, organizados em torno de um pátio irregular, e com planta livre. Num dos estudos, Gaudi havia previsto uma rampa para carruagens, que iria até os pisos superiores. Um século depois, alguns edifícios já possibilitam que você chegue de carro ao seu apartamento nas alturas.

Um exemplo desses ares renovados no mercado é a atuação do grupo paulista Idea!Zarvos (http://www.ideazarvos.com.br/site/), que está lançando diversos edifícios projetados por arquitetos de fora do círculo comercial que abastece as construtoras com projetos e, raramente, com idéias. Isso pode colocar novamente no devido lugar, a importância do arquiteto na elaboração dos programas, função exercida até aqui, pelos empreendedores e pelos corretores de imóveis.

O projeto de apartamentos tem, dentre as suas especificidades, a exigência de otimização da área construída, o que implica no manejo inteligente do dimensionamento. Esta habilidade, desmerecida desde a saudável contestação feita pela academia ao funcionalismo rasteiro que dominava exatamente o mercado, continua a ser parte fundamental do saber arquitetônico, ainda que muitas das escolas tenham descuidado do seu aprendizado. Fosse apenas um descuido, já seria preocupante, mas a desatenção acaba estimulando uma rejeição por parte dos estudantes, de demandas pela eficiência no aspecto dimensional. Exigir-se a realização de um pré-dimensionamento bem feito é visto por muitos, como perda de tempo, ação anacrônica que teria resultados nefastos sobre a projetação, como o cerceamento à criatividade.

Outros, profissionais e estudantes, alegam ter métodos próprios e nunca revelados, de encontrar as medidas adequadas a cada espaço. Particularmente, conheço dois métodos: analisar as atividades e o mobiliário a ser provavelmente utilizado e fazer um pré-dimensionamento, ou então o método roleta russa, onde se dimensiona na base da sorte ou azar. O detalhe picante é que a cabeça na frente do cano é a do proprietário ou a do usuário, e nunca a do arquiteto, que pode sair e comemorar a sua sobrevida.

Uma outra característica da diversidade na concepção das unidades é que ela resulta em formas distintas da repetição que caracteriza os edifícios de apartamentos. Não que a repetição em si impeça a criação de formas expressivas, pois temos inúmeros exemplos nos quais é justamente a repetição de elementos que proporciona uma expressão única e bela. Mas basta observar a paisagem das nossas cidades para constatar a monotonia. Diferentemente de cidades como Brasília ou na Paris Central, nas quais a topografia e o gabarito reafirmam a uniformidade, nas demais, o modelo compositivo se repete em alturas diferentes e com materiais levemente diferentes, resultando num "quase igual" exasperador.

Nos edifícios residenciais, predomina o modelo da coluna, no qual o edifício tem base, fuste e coroamento. Nos fustes, constituídos justamente pela repetição das unidades, os arquitetos tem interferido com medidas epidérmicas, tais como alternância de varandas, janelas intercaladas e trechos de materiais diferenciados, com um resultado plástico quase sempre anulado pelas semelhanças do entorno. Mas em cidades mais conservadoras, nas quais a fiscalização é omissa, como em Belo Horizonte, é nos coroamentos onde o desastre formal se amplia, pela adição de improvisações nas coberturas, comprometendo totalmente o modelo compositivo.

Com a linguagem das edificações verticais caminhando na direção de formas caracterizadas por variações volumétricas motivadas também por interiores diferenciados, os condomínios verticais passam a refletir a cacofonia da paisagem sem se constituírem em mais um ruído. Por outro lado, livre do determinismo de projetar um edifício auto centrado, como acontece nas composições tradicionais, o arquiteto tem a oportunidade de retomar a sua importância na definição de paisagens visualmente mais instigantes e lúdicas.




















Casa Mila. Gaudi
Paisagem residencial. São Paulo.
Edifício Fidalga 727. Triptyque
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harmonia 57

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O Harmonia 57 é um edifício para escritórios e, assim como o Fidalga 727, foi projetado pelo Triptyque, um escritório formado por Carolina Bueno, Guillaume Sibaud, Olivier Raffaelli e Gregory Bousquet. Os quatro são formados pela Escola de Arquitetura Paris-la-Seine e se estabeleceram em São Paulo, em 2001.
O edifício Harmonia 57 é u empreendimento da Idéia!Zarvos, voltado para o publico dominante na Vila Madalena, em São Paulo, composto por artistas, designers e outros profissionais ligados nos grandes temas da cultura contemporânea. Sendo assim, o conjunto está sintonizado com o interesse recentemente renovado, em tecnologias verdes, possuindo sistemas de tratamento e reutilização de água. Uma camada vegetal envolve a maioria das fachadas.
O edifício possui 450m2 distribuidos em unidades de 85 e 120 m2, além de uma cobertura com 40 m2 e terraço. Todos os espaços são plantas livres, providas de serviços.

A ascenção do Triptyque não chega a ser uma nova missão francesa, mas sem dúvida um nível internacional de exigência começa a se consolidar entre nós.

Mais imagens em: http://www.triptyque.com/harmonia/
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möbius

Bem lembrado pelo Ton, um dos bons arquitetos de Pará de Minas: a superfície contínua da Biblioteca de Astana, deriva das perquisas do matemático August Ferdinand Möbius.


1 de set. de 2009

Cazaquistão

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No post anterior, quando eu comparei o Brasil com o Cazaquistão, não foi por acaso.
O escritório dinamarquês Bjarke Ingels Group (http://www.big.dk/) foi agraciado com o primeiro lugar no concurso para o projeto da Biblioteca Nacional de Astana, depois de ter ficado entre os cinco pré-selecionados. O concurso foi aberto e internacional e, entre os 19 proponentes estavam, entre outros, Norman Foster e Zaha Hadid.