30 de ago. de 2009

Onde está a Arquitetura, no Brasil?

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sede do NAI, em Rotterdam


“No Brasil, há uma lacuna relativamente grande entre a esmagadora tradição modernista e a maior parte da produção arquitetônica contemporânea. Por um lado, a maior parte dos arquitetos ainda projeta no vácuo dos dois ganhadores do premio Pritzker, ainda ativos aos 80 e 100 anos de idade; e as figuras de proa da era dourada da arquitetura brasileira ainda formam o núcleo tanto do debate arquitetônico quanto das exposições.
Nesse meio tempo, o crescimento explosivo das cidades é, quase sem exceção, o trabalho de proprietários/ empreendedores e de firmas arquitetônicas comerciais. O resultado é uma monótona e expandida massa de edifícios residenciais neoclássicos e de torres de vidro, de escritórios. Particularmente em São Paulo, a estupefação diante da beleza da cidade, deu lugar ao pavor pelo seu tamanho.”

15 June 2009 / Sander Troost

A análise de Sander Troost, no Archined (http://www.archined.nl/en/) não poderia ser mais cristalina. Parece que vivemos mergulhados no passado, numa espécie de resistência, não de caráter heróico, mas conservador, em relação às novas linguagens que surgem na arquitetura a partir, curiosamente, do Pós-modernismo, sempre acusado de revivalista. Depois dele, o Deconstrutivismo, associado à evolução dos meios digitais de representação e estudo, ampliou radicalmente os campos de investigação da forma dos edifícios.

Toda mudança de linguagem da arquitetura, tem sua origem nas escolas ou no exercício profissional. Geralmente, numa confluência dos dois. As escolas tem poderes limitados para empreender mudanças as quais dependem dos arquitetos e de seus clientes, entretanto, é nelas que os arquitetos recebem a formação básica e que as gerações dialogam mais diretamente.
Outra instância importante na difusão, no aprimoramento e na renovação da arquitetura é a das associações profissionais. Infelizmente, a principal delas, o IAB, está completando 76 anos de opção política, com gradual abdicação das suas funções culturais (ver post da semana passada).

Bem diferente é o quadro holandês. Em 1988, o NAI, Nederlands Architectural Institute (http://en.nai.nl/), promoveu um concurso para a construção da sua sede, num parque em Rotterdam (vencido por Jo Coenen), com o claro propósito de divulgar internacionalmente a arquitetura holandesa e de divulgar para o público interno, a arquitetura de modo geral. O NAI se auto define como “...acima de tudo,um instituto cultural que é aberto ao público e que usa uma variedade de métodos para se comunicar sobre a conformação do espaço humano”, publica livros, possui dois museus e tem intensa programação cultural.
Coincidentemente ou não, os arquitetos holandeses tornaram-se figuras da maior influência a partir dos anos 90. Rem Koolhaas, MVRDV, e muitos outros, alguns mais, outros menos talentosos, estiveram e estão no centro dos debates arquitetônicos em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Nada parecido aconteceu aqui, nem mesmo um aprofundamento nos temas contemporâneos.

Na minha dissertação de mestrado, especulei acerca das relações entre o pensamento de Marco Vitruvio, objeto dos meus estudos, e as idéias predominantes na Escola de Arquitetura da UFMG. Digo predominantes com alguma reserva, pois a quase total ausência de debates na instituição - e não só nela - não permite afirmar muita coisa. Mesmo assim, a tendência conservadora é nítida. Já em São Paulo, o fenômeno vai além da academia, sem excluí-la, pois se materializou num movimento modernista tardio, sobre o qual também já falei em posts anteriores (O Modernismo Conservador e os Cadillacs de Cuba).

A paralisia pela qual estamos passando, evidente quando se observa o que está sendo feito em todo o mundo, do Cazaquistão ao Chile, da Espanha à China, é apenas aparente, pois o que não anda pra frente anda para outros lados ou então morreu.
Por outro lado, nunca é demais lembrar que, instalado o Conselho Regional de Arquitetura, o CRA, estará no poder, e desta vez com muitos recursos, justamente o grupo que tem ditado os rumos do IAB nas últimas décadas e que privilegia uma discutível dívida social dos arquitetos, em detrimento dos compromissos com a própria cultura arquitetônica. Então, é importante que se legitimem outros discursos e outros interesses.

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2 comentários:

Unknown disse...

concordo muito com o Sr Vitruvius, mais venustas!
Acho que a produção contemporânea prioriza melhores custos beneficios o mais imediato possível. Brasileiro é muito imediatista...
Penso que o projeto o mais ideal possível fecha em função, forma e ambiente nas dimensões e legislações aplicaveis e o conceito inclui todas as questões citadas batidas no liquidificador pra um resultado "nutritivo", que proporcione uma vida melhor, não é?

Sérgio Machado disse...

Resultado "nutritivo", é uma definição promissora...