23 de ago. de 2009

tempos modernos

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O Pavilhão da Estatística, projetado para a exposição comemorativa do centenário da independência do Brasil, em 1922, pelo professor da Escola Nacional de Belas Artes Dr. Gastão da Cunha Bahiana (1879-1959), primeiro presidente do IAB.


Saindo das aulas de sábado, Monsieur De Tugny faz hora extra, falando sobre uma estratégia de Niemeyer no Cassino/ MAM da Pampulha, semelhante a algumas utilizadas por Bernini. Trata-se de um artifício no qual uma parte do edifício tem os seus elementos reduzidos de tamanho, de modo a aparentarem estar mais distantes do observador, corrigindo visualmente uma composição: uma escala ilusória. No caso do MAM, o objeto em questão é uma edícula. O problema é que colocaram uma câmera de segurança sobre ela, restituindo-lhe a escala real. Daí a indignação de Augustin contra os responsáveis pelo projeto de segurança.
Sim, considerando que o museu é dirigido por um motorista de ônibus em desvio de função, a culpa deve ser mesmo de algum sargento. Entretanto, implicante que sou, encontrei outro responsável: o IEPHA. Ora, ele não é o “guardião do nosso patrimônio”? O título não é uma ironia, mas está lá no seu estatuto. Ou será que o IPHAN é que é o guardião, e o IEPHA é apenas o sub-guardião? De qualquer modo, o espaço é freqüentado pelos funcionários de ambos, nas vernissages.

Bom, mas me lembrei dessa ignorância que resulta em desrespeito porque queria falar de outro patrimônio que é apenas dos arquitetos, o IAB.
Recebi convite para uma “palestra gratuita”, promovida pela entidade:“Casa Saudável: cuidar do habitat é cuidar da própria saúde”. Na verdade é a isca para um curso de 840,00 reais.
O palestrante é o "geobiólogo" preferido na Coréia do Norte, o famoso Allan Lopes. Pensei com meus florais: o IAB é mesmo obstinado... porque insistir assim nessa fraude? Está certo que tem gente lutando com unhas e tentáculos pelo Sarney, mas mesmo assim, promover um charlatão não ia passar despercebido. Não por gente tão zelosa com o prestígio da sua profissão, como são os arquitetos.
Como o IAB chegou a esse ponto? Fui dar uma olhada na história do Instituto, e nada melhor para isso do que pesquisar no seu site.
Uma vez lá, um documento me interessou imediatamente: “Manifesto de Gregori Warchaviski”. Quem teria sido esse Warchaviski? Já ouvi falar em Lulovski, Berzoniev e Mercadantionov, mas Warchaviski???
Tivemos um Warchavchik, mas agora só temos Allan Lopes.

O IAB surgiu nos anos 20 e sua longa história, resumida no seu site, poderia ser ainda mais resumida assim, usando as palavras do próprio Instituto:
(...) a histórica reunião de 26 de janeiro de 1921.
(...) se em 1931 o Instituto se posicionava claramente a favor da arquitetura contemporânea, em 1944 o IAB manifestava-se abertamente pelo fim da ditadura Vargas, pela anistia geral, pela libertação dos presos políticos e pela convocação de uma Assembléia Constituinte.
(...)o corolário de todo seu trabalho ocorreu em fins de 1976, no IX Congresso Brasileiro de Arquitetos, em São Paulo, quando uma massa de cerca de seis mil arquitetos e estudantes surpreendeu à todos, numa explosão contra a ditadura, os atos de exceção, como que reeditando o movimento de 1943, com outras dimensões.


Ao que tudo indica, em 1944 o Instituto trocou a arquitetura pela política, em 1976 teve sua apoteose e hoje nem se anima a atualizar o site. Está lá: IAB HOJE (nota do editor: o texto é de 1988)... Eu é que não vou ler.

Em 76 eu estava em São Paulo, como estudante. Aliás, a presença dos estudantes foi objeto de muitas contestações. Pode, não pode... hoje engrossamos as estatísticas. É bem verdade que estávamos lá por motivos diferentes dos arquitetos: estávamos pelo encontro, pelo inusitado de reunir aquele grupo de pessoas tão bacanas como eram os arquitetos. Os ditos, estavam lá para protestar, diz a história. Entretanto, o que eu lembro é do Ernest Neufert sendo aplaudido de pé por mais de cinco minutos, por 4000 pessoas. E das noites varadas, lendo e ouvindo Fernando Pessoa declamado pelos amigos, em frente ao Pacaembu, onde estávamos alojados.
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”
Disse o poeta.

Depois disso, nada mais de importante aconteceu. O IAB seguiu seu caminho político, muitos construíram o seu caminho de políticos no IAB, e o Manifesto de Warchavchik foi trocado por um manual de Feng-shui.

Se mesmo com esse anfitrião tão destituído, você vai à palestra do Allan, lembre-se de levar um quilo de alimento.
Sugiro capim.

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