1 de abr. de 2009

Chutes Certeiros




Seguem alguns comentários do arq. Sylvio de Podestá, sobre posts desse blog (do chute 5 pra baixo, são sobre posts do arquivo). Não vou falar das qualidades do Sylvio agora, pra não parecer que estou querendo amansá-lo, mas, de cara, ele já pegou o espírito da coisa: o Pau da Barraca serve pra sustentar e pra ser chutado.
É mais útil na segunda função.

A seguir as observações do nosso ponta-de-lança:

Chute 1: “Alguns edifícios serão peças de show, monumentos. Outros contribuirão silenciosamente para a integridade do tecido urbano”. (J.S.Polshek) Claro, o traduzo normalmente como a existência de arquiteturas emblemáticas, prima donas ou estreladas com o percurso até seu "adro" margeado por coadjuvantes que deveriam ser de primeira linha e com o silêncio que lhes convém;

Chute 2: . Só gostam de publicações com muitas figuras. Eu, particularmente, não consigo perceber arquitetura apenas pelo arquitetês. Arquitetura publicada sem figuras, coadjuvantes ou principais, é masturbação pretensiosa, é imaginar que mesmo em poesia o texto carregue mais informações do que um simples corte ou outras cositas más;

Chute 3: ... e mostra que amplas possibilidades de desenvolvimento ainda estavam abertas para o modernismo. ...semeando um pluralismo que prevalece até hoje e me parece definitivo. Duas questões complementares: cai o modernismo dogmático, o da cartilha, o que dizia ser seus irmãos o capital e o tecnológico disponíveis e abre definitivamente para o "bicho" geográfico do pós-modernismo que até hoje, acreditam alguns, ser um tanto de colunas gregas ou neo-clássicas, cores forte e frontões e não a possibilidade de antever o necessário pluralismo, único capaz de mesclar o conhecimento universal com cultura local e ainda continuar universal sem necessariamente participar do star system ou de qualquer outro international style da vida. Opa! E a meninada neoneomoderna capitaneada pelos novos brancos (longe dos Five) onde o verde do vidro não diz exatamente das nossas florestas que na verdade estão nas longilíneas portas e grandes decks localizados de um só lado dos tanques de uma raia e bordas infinitas? (Ufa!)
Aí o chute na barraca há de ser visto não como a grade da Rainha que foi uma imposição do governo Newton que achava ali, auditório aberto e disponível, possibilidade de uma bem montada trincheira de greve dos professores estaduais que não o admiravam capitalisticamente falando (época onde o salário era mais importante que a qualidade do ensino e seus locais arquipedagógicos). Nada mudou mas a grade continua e não conseguimos retira-la. Provisório definitivo.

Chute 4: ...queremos a adesão do usuário, mas não discutimos a sua apropriação dos espaços que propomos, posto que função é coisa de funcionalista e interior é objeto da decoração. Vejamos então: quando Venturi sugere que os arquitetos desçam do banquinho narcisista onde subiram com sua cartilha operacional, para mim dizia (e vejo isto com uma clareza de Rio Bonito) que o usuário é que deve receber o que propomos e deve receber a partir de um diálogo onde ele é interlocutor e não ouvinte apenas. Daí não é possível que surja projetos "assinados", com a cara de quem niemariza suas bolotas brancas como a dizer "átilahuno stay here ou pisou neste gramado de cimento agora ágora/praça dos poderes ou dos memoriais latinoamericanos";

Chute 5: ...assegurando que tais alterações não descaracterizem a proposta original, já que o atendimento às exigências do patrimônio e mesmo do programa, eram parte do escopo do concurso. Este projeto vencedor é um passo interessante na forma de interpretar patrimônio tão frágil, algo meio Herzog&Meuron, e seu pós parto tantas vezes alterado foi uma imensa pressão feita pelo patrimônio que desatento foi obrigado a calar-se pressionado por poderes palacianos, pela rápida apropriação sindical como forma presencial imediatista e, pior ainda, como demonstração de força de um governo palaciano que, já prevendo embates filosóficos e fisiologistas não previstos para sua imensa campanha "cultural", sorrateiramente contratava (ou tentava, pois foi barrado pela possibilidade de mais uma entrada do MP) o arquiteto governamental de plantão (o que quer construir sozinho todos os prédios institucionais do governo local e outros) que emburrecido partiu para outros notoriosaberes. Mais adesão do usuário impossível, só que o usuário é meu representante (meu não, de um punhado de gente). Quanto ao prédio vizinho, a proposta é coisa de paulista, quer fazer prédio em qualquer lugar e este é cópia da proposta carioca pritzkrafada (acho que para o Banco do Brasil, lá no seu centro cultural). Por outro lado o planetário, também uma conquista notória, está parado porque outros larápios roubaram os vidros da TIM (?) e... elefante enferrujado no pedaço. O patrimônio disse alguma coisa??? Qual deles??? Porque este medo conveniente de concursos? Para gerar ou objetos do desejo penniano ou calabocas de centros administrativos niemarescos?

Chute 6: ...creio que é do interesse da nossa cultura, reconhecer a excelência da produção desse colega discreto... Competente sim, discreto não. A forma como lobiliza seus projetos é de uma indiscrição, de uma violência individual que impossibilita qualquer outro tipo de experiência institucional neste e outros futuros governos já conversados. Acredito que ocupa um bom lugar na arquitetura brasileira mas precisa compartilhar seu discurso filosófico com o discurso classista, com a defesa real do concurso como lícita forma de contratação profissional e eliminar de vez este formato lobista. Até Sir Foster ganha e perde concursos!! Vigliecca montou uma equipe só para dizer que ganha muito concurso e descobriu agora que alguns vão ser construídos. Pena! Isto fica parecendo dor de corno, mas pode acreditar que em momento algum estou defendendo uma causa própria e sim ampliando o debate. Para mim não quero nada tão grandioso, nada tão complicado que interfira na minha saudável disponibilidade para tomar cerveja com amigos.

Chute 7: "Podemos nos gabar de haver construído a melhor cidade do Brasil. Somos grandes, ousados, modernos! É verdade; mas poderíamos ser tudo isso, conservando as duas mais louváveis virtudes dos mineiros: a simplicidade e a despretensão". Sei não!

Blog é prá isso? Prá gente ficar falando um tanto de coisa e mandar prô ar? Então foi.
Sylvio de Podestá depois de 23 minutos mais ou menos.

Um comentário:

Sérgio disse...

Sylvio:
Sobre o chute 1:
Essa possibilidade é real e, de fato, muio conveniente às prima-donas. Mas existem situações nas quais a discreção é desejável. Entretanto, o que me parece que fica mais a descoberto é a própria definição de monumento e o seu atrelamento ao show: será que o silêncio não é capaz de colocar um edifício na memória coletiva? Na memória dos arquitetos, é certo que coloca.

sobre o chute 2
Entre o apenas e o sempre existe uma distância, mas concordo que as imagens são essenciais para referenciar qualquer discurso sobre arquitetura. É embaraçoso, por exemplo, que um livro como o Quid Tum?, do Cacá Brandão, fale sobre as idéias de Alberti em 370 páginas, sem acrescentar uma imagem sequer. Ou não?

sobre o chute 3
Sem dúvida: para o bem e, quase sempre, para o mal, perdemos o controle sobre o que projetamos.

sobre Chute 4: se aplicarmos aqui o dito Venturiano (sic), é possivel o isto E aquilo, e não só o isto OU aquilo, então talvez possa existir uma assinatura com participação. Mas o que caracteriza uma assinatura? Se for apenas a cara do edifício, então fica difícil o usuário participar...