13 de jul. de 2009

arte ou manifesto?


Eu estava ouvindo um trabalho dos anos 90, dos Brecker Brothers, num estilo que poderia ser classificado como “jazz contemporâneo”, se isto não significasse muito pouco ou quase nada em música. Mais apurado seria dizer “fusion”, que se refere à mistura jazz/rock. Naquele album, “Out of the loop”, a banda tem uma composição simétrica: dois metais, duas cordas e duas percussões, uma formacão equilibrada e geométrica.
Poucos sabem quem são Michael e Randy Brecker, pois os arquitetos, assim como os artistas plásticos, se ligam mais ao mainstream da música do que aos trabalhos técnica e compositivamente instigantes. É pura intuição minha, mas devem existir entre nós, mais fans de Marisa Monte do que de Brian Eno, ou Fennesz, o que não deprecia ninguém. De fato, apenas reafirma que aquilo que sentimos vale mais do que as teorias por trás das artes. Entretanto, neste caso, estamos também admitindo que para ser uma cantora, basta ter uma postura, saber escolher um repertório e ser razoavelmente afinada.

Mas lá estava eu, no meio de “Slang”, me deleitando com a extrema capacidade técnica que se mistura à sensibilidade daqueles seis músicos, quando me lembrei dos trabalhos de Adriana Varejão, vistos há uns 40 dias, no Inhotin. Especificamente, me lembrei da ala dos azulejos, dos grandes azulejos. Nela, Adriana muda a sua escala convencional, fazendo-os com 60 ou 80 de lado e, na queima, deixa que apareçam estrias e rachaduras no material. As peças apresentam também pinturas azuis, sugerindo, sem reproduzir, desenhos tradicionais. O traço é ruim, mas ela não se pretende desenhista, e sim militante de alguma causa. Naquele momento, a denúncia era quanto ao nosso descaso pelo patrimônio.
Onde estava a perícia alí? Sua habilidade com a ceramica faria um artesão japonês sorrir pacientemente, e os seus traços sobre o azulejo, não dizem muito. Entretanto, o que realmente importa, é o discurso, a atitude, as intenções que antecederam a realização e que acabam por tornar a própria realização, mera formalidade.
Se a proposta é ser cantora, vou de Alcione e não de Marisa Monte.

Adriana Varejão é a Marisa Monte das artes plásticas.

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